Sem-tetos: construtoras atrasam entregas de empreendimentos em até cinco anos
Foto: Metropress
Depois de 1.825 dias ou cinco anos de espera, os compradores do residencial Ikê, empreendimento da PDG, receberam seus imóveis. Quem sonhou em morar no Tamari, também da PDG, teve mais sorte e esperou apenas três anos a mais do que o previsto em contrato. Notícias nada animadoras para os adquirentes do Pátio Jardins, da mesma construtora, que já esperam há dois anos pela entrega, que está sem previsão.
Esses são apenas alguns exemplos das dezenas de empreendimentos atrasados em Salvador. Se o boom imobiliário dos últimos anos transformou a cidade em um canteiro de obras, esse cenário tem se eternizado porque muitas construtoras não estão cumprindo os prazos de entrega dos empreendimentos.
Durante o atraso, muitas famílias passam por dificuldades e outras acabam se desfazendo por causa da falta de compromisso das construtoras. Alguns projetos não chegam nem a sair do papel, como o do condomínio Imbuí Garden, sob responsabilidade da Syene Empreendimentos.
Os compradores prejudicados pela PDG acabaram se organizando. Diversas manifestações já foram realizadas mas, ainda assim, os problemas persistem. Os atrasos da PDG devem ser reflexo do prejuízo que a construtora está tendo em todo país. No primeiro semestre deste ano, a empresa teve um prejuízo de R$ 104,9 milhões. As contas no vermelho podem fazer a empresa desistir de 19 projetos ainda este ano.
Sem poder de garantir
Quando comprou uma das unidades do empreendimento Pátio Jardins, o analista de sistemas Rafael Lima acreditava que era uma boa escolha para o futuro, já que planejava o casamento. Mas, depois de tantas idas e vindas e com o casamento adiado diversas vezes, ele já sabe que, quando casar, em dois meses, ainda não vai poder morar com a esposa.
"O atraso permanece, a gente teve uma reunião com o diretor regional da PDG e ele disse 'a gente não tem um prazo de entrega'. Quer dizer, a gente cobrou uma data de entrega e eles disseram que não a tem. Então, a gente nem sabe quando vai receber mesmo. Daqui a dois meses, eu vou casar e sei que vou morar em um lugar e minha esposa em outro", conta Rafael.
São 600 famílias prejudicadas pela PDG apenas no empreendimento Pátio Jardins. "Quando a gente percebeu que a obra ia atrasar, a gente formou uma comissão e fomos lá cobrar informações de como estava a obra. naquele primeiro momento, eles não queriam nos aceitar", lembra Rafael Lima.
Em busca de "vítimas"
Durante o atraso na obra, os adquirentes do Pátio Jardins ainda tiveram que lidar com outros problemas envolvendo a construtora. "A falta de organização da PDG é muito grande. Na área financeira, com valores de saldo devedor muito além do normal, às vezes, chegando a mais de R$ 50 mil a diferença, é claro, para mais", relata Eliana Oliveira, uma das proprietárias do prédio.
Eliana conta que a falta de comunicação é recorrente no tratamento com a PDG. "O que verdadeiramente nos irrita é não haver uma exposição clara. Quando ligamos aos funcionários daquela empresa ou enviamos e-mail ao setor de atendimento, solicitando uma posição clara sobre a data, cada funcionário informa uma previsão diferente. É uma falta de respeito", reclama.
Construtoras ignoram suas falhas
Em 2008, quando foi lançado, o Bela Vista prometia um novo bairro a uma região popular da cidade. A expectativa era de que a primeira etapa do empreendimento, que custaria R$ 1,2 bilhão à incorporadora JHSF, ficasse pronta em 2010. Essa primeira parte inclui cinco torres e o shopping, mas até hoje, com três anos de atraso, apenas o estabelecimento comercial está pronto e em pleno funcionamento.
O projeto previa 19 torres residenciais e quatro comerciais. Mas, por enquanto, apenas os residenciais Reserva das Flores e Reserva das Árvores, totalizando cinco prédios, estão em construção. Um dos residenciais, o Reserva dos Pássaros ainda nem foi lançado.
Pelo atraso, os compradores podem acionar a Justiça. "Eles têm o direito de receber o aluguel por cada mês de atraso da obra, independente de estar alugando ou não, porque é o aluguel que ele iria receber se o imóvel dele tivesse sido entregue na data certa", explica o especialista em direito do consumidor Henrique Guimarães.
A justiça respalda o consumidor
Apesar do atraso, muitas construtoras continuam reajustando o valor do saldo devedor dos compradores. "Eles fazem a correção do saldo. Não é assim 'ah, vamos congelar seu saldo agora até receber o apartamento', não, ele está sendo corrigido como se a genteestivesse com o imóvel na mão", reclama Joselito Barreto, que também comprou um imóvel da PDG.Por causa desse e de outros problemas, ele resolveu acionar a construtora na Justiça.
Para o advogado Henrique Guimarães, o reajuste é injusto com os compradores. "Se ela continua reajustando esse saldo devedor, portanto um ônus adicional indevido. Esse aumento é um aumento injusto, tendo em vista que o consumidor não tem nenhuma responsabilidade sobre o atraso", diz o especialista.
Construtoras perdidas em Salvador
Com todos os atrasos e desculpas de falta de material, excesso de chuvas e falta de mão de obra, ficou claro para os adquirentes e para o mercado que as empresas que vieram de fora para explorar o mercado soteropolitano, como a JHSF e a PDG, realmente não estavam prontas.
O presidente do Sindicato da Indústria da Construção da Bahia (Sinduscon), Carlos Alberto Vieira Lima, admitiu a situação. "Isso está localizado em empresas, inclusive grandes, que vieram de fora, que não estavam habituadas a trabalhar em Salvador, que vieram num momento de falta de mão de obra, e por falta desta questão de gestão, eles tiveram dificuldade no desenvolvimento dos seus projetos, o que acarreta uma coisa muito ruim para o mercado", afirmou Vieira Lima.
Syene reconhece o atraso, e só!
A promessa de um condomínio-clube, com quatro torres e mais de 30 itens de lazer, encheu os olhos de muitos adquirentes do Villa Privilege. Mas o atraso nas obras trouxe muitos transtornos para os compradores.
Fóruns de discussão foram criados na internet para discutir os rumos da situação. Lançado em 2008, o empreendimento tinha previsão de entrega em julho do ano passado, mas até hoje os compradores não receberam as chaves das cinco torres, que têm 33 andares cada.
Em contato com a Syene, a incorporadora afirmou que "reconhece o atraso da obra e, apesar dos imprevistos que aconteceram durante o processo, a empresa afirma que toda a equipe envolvida tem trabalhado de forma coesa". A assessoria, no entanto, não informou o novo prazo de entrega do empreendimento. Resta esperar.
Syene: uma das mais atrasadas
A Syene Empreendimentos é uma das construtoras com mais obras atrasadas em Salvador. Mesmo assim, não deixa de anunciar os empreendimentos atrasados em seu site, como o Imbuí Garden, que não tem nem tijolo, nem isolamento para a obra, apenas mato.
A situação está tão complicada para a Syene, que ela fez uma inovação no setor imobiliário e colocou o Salvador Prime em promoção. "Liquida Salvador Prime" anuncia o site da Syene.
Procon age e notifica empresas
O Procon notificou, em uma semana, 40 empresas do ramo da construção para que elas apresentem o cronograma de obras. Foram notificadas MFP Construtora, PDG, OAS, MRM, Costa Andrade, Rossi, André Guimarães, Syene, Tenda, Deil, Odebrecht, Fator Realty, Ramos Catarino, Construtora Segura, Cyrela, Conipe, CPL Construtora, Holtz Engenharia, 4×4 Engenharia, Queiroz Galvão, Sertenge, BNE Empreendimento, Brandão e Nunes Empreendimentos, Catabas, Torres Engenharia, Falcão e Garrido, Chroma Construções, Metrus Empreendimentos, Ferreira Ferraz, Santa Helena Incorporações, Passarelli, Incorporadora Ecomundo, Construtora e Incorporadora Espaço R2, ARC Engenharia, São Pedro Construtora, Actitur, Gruppe Serviços e Máquinas e Via Cléere Incorporações.
Compradores sem respostas
O Jornal da Metrópole entrou em contato com as construtoras para saber o andamento dos empreendimentos. Em nota, a PDG afirmou que as obras do Pátio Jardins estão prontas, mas "aguarda a liberação do Habite-se para que o empreendimento seja entregue aos proprietários".
Mesmo com os atrasos, a empresa disse ainda que "continua trabalhando para entregar os imóveis com melhor qualidade, dentro do menor prazo".
O Jornal da Metrópole não conseguiu entrar em contato com a assessoria local da JHSF para saber o andamento das obras do Horto Bela Vista e os novos prazos previstos para a conclusão do novo bairro. Até o fechamento desta edição, ninguém se pronunciou.
Esses são apenas alguns exemplos das dezenas de empreendimentos atrasados em Salvador. Se o boom imobiliário dos últimos anos transformou a cidade em um canteiro de obras, esse cenário tem se eternizado porque muitas construtoras não estão cumprindo os prazos de entrega dos empreendimentos.
Durante o atraso, muitas famílias passam por dificuldades e outras acabam se desfazendo por causa da falta de compromisso das construtoras. Alguns projetos não chegam nem a sair do papel, como o do condomínio Imbuí Garden, sob responsabilidade da Syene Empreendimentos.
Os compradores prejudicados pela PDG acabaram se organizando. Diversas manifestações já foram realizadas mas, ainda assim, os problemas persistem. Os atrasos da PDG devem ser reflexo do prejuízo que a construtora está tendo em todo país. No primeiro semestre deste ano, a empresa teve um prejuízo de R$ 104,9 milhões. As contas no vermelho podem fazer a empresa desistir de 19 projetos ainda este ano.
Sem poder de garantir
Quando comprou uma das unidades do empreendimento Pátio Jardins, o analista de sistemas Rafael Lima acreditava que era uma boa escolha para o futuro, já que planejava o casamento. Mas, depois de tantas idas e vindas e com o casamento adiado diversas vezes, ele já sabe que, quando casar, em dois meses, ainda não vai poder morar com a esposa.
"O atraso permanece, a gente teve uma reunião com o diretor regional da PDG e ele disse 'a gente não tem um prazo de entrega'. Quer dizer, a gente cobrou uma data de entrega e eles disseram que não a tem. Então, a gente nem sabe quando vai receber mesmo. Daqui a dois meses, eu vou casar e sei que vou morar em um lugar e minha esposa em outro", conta Rafael.
São 600 famílias prejudicadas pela PDG apenas no empreendimento Pátio Jardins. "Quando a gente percebeu que a obra ia atrasar, a gente formou uma comissão e fomos lá cobrar informações de como estava a obra. naquele primeiro momento, eles não queriam nos aceitar", lembra Rafael Lima.
Em busca de "vítimas"
Durante o atraso na obra, os adquirentes do Pátio Jardins ainda tiveram que lidar com outros problemas envolvendo a construtora. "A falta de organização da PDG é muito grande. Na área financeira, com valores de saldo devedor muito além do normal, às vezes, chegando a mais de R$ 50 mil a diferença, é claro, para mais", relata Eliana Oliveira, uma das proprietárias do prédio.
Eliana conta que a falta de comunicação é recorrente no tratamento com a PDG. "O que verdadeiramente nos irrita é não haver uma exposição clara. Quando ligamos aos funcionários daquela empresa ou enviamos e-mail ao setor de atendimento, solicitando uma posição clara sobre a data, cada funcionário informa uma previsão diferente. É uma falta de respeito", reclama.
Construtoras ignoram suas falhas
Em 2008, quando foi lançado, o Bela Vista prometia um novo bairro a uma região popular da cidade. A expectativa era de que a primeira etapa do empreendimento, que custaria R$ 1,2 bilhão à incorporadora JHSF, ficasse pronta em 2010. Essa primeira parte inclui cinco torres e o shopping, mas até hoje, com três anos de atraso, apenas o estabelecimento comercial está pronto e em pleno funcionamento.
O projeto previa 19 torres residenciais e quatro comerciais. Mas, por enquanto, apenas os residenciais Reserva das Flores e Reserva das Árvores, totalizando cinco prédios, estão em construção. Um dos residenciais, o Reserva dos Pássaros ainda nem foi lançado.
Pelo atraso, os compradores podem acionar a Justiça. "Eles têm o direito de receber o aluguel por cada mês de atraso da obra, independente de estar alugando ou não, porque é o aluguel que ele iria receber se o imóvel dele tivesse sido entregue na data certa", explica o especialista em direito do consumidor Henrique Guimarães.
A justiça respalda o consumidor
Apesar do atraso, muitas construtoras continuam reajustando o valor do saldo devedor dos compradores. "Eles fazem a correção do saldo. Não é assim 'ah, vamos congelar seu saldo agora até receber o apartamento', não, ele está sendo corrigido como se a genteestivesse com o imóvel na mão", reclama Joselito Barreto, que também comprou um imóvel da PDG.Por causa desse e de outros problemas, ele resolveu acionar a construtora na Justiça.
Para o advogado Henrique Guimarães, o reajuste é injusto com os compradores. "Se ela continua reajustando esse saldo devedor, portanto um ônus adicional indevido. Esse aumento é um aumento injusto, tendo em vista que o consumidor não tem nenhuma responsabilidade sobre o atraso", diz o especialista.
Construtoras perdidas em Salvador
Com todos os atrasos e desculpas de falta de material, excesso de chuvas e falta de mão de obra, ficou claro para os adquirentes e para o mercado que as empresas que vieram de fora para explorar o mercado soteropolitano, como a JHSF e a PDG, realmente não estavam prontas.
O presidente do Sindicato da Indústria da Construção da Bahia (Sinduscon), Carlos Alberto Vieira Lima, admitiu a situação. "Isso está localizado em empresas, inclusive grandes, que vieram de fora, que não estavam habituadas a trabalhar em Salvador, que vieram num momento de falta de mão de obra, e por falta desta questão de gestão, eles tiveram dificuldade no desenvolvimento dos seus projetos, o que acarreta uma coisa muito ruim para o mercado", afirmou Vieira Lima.
Syene reconhece o atraso, e só!
A promessa de um condomínio-clube, com quatro torres e mais de 30 itens de lazer, encheu os olhos de muitos adquirentes do Villa Privilege. Mas o atraso nas obras trouxe muitos transtornos para os compradores.
Fóruns de discussão foram criados na internet para discutir os rumos da situação. Lançado em 2008, o empreendimento tinha previsão de entrega em julho do ano passado, mas até hoje os compradores não receberam as chaves das cinco torres, que têm 33 andares cada.
Em contato com a Syene, a incorporadora afirmou que "reconhece o atraso da obra e, apesar dos imprevistos que aconteceram durante o processo, a empresa afirma que toda a equipe envolvida tem trabalhado de forma coesa". A assessoria, no entanto, não informou o novo prazo de entrega do empreendimento. Resta esperar.
Syene: uma das mais atrasadas
A Syene Empreendimentos é uma das construtoras com mais obras atrasadas em Salvador. Mesmo assim, não deixa de anunciar os empreendimentos atrasados em seu site, como o Imbuí Garden, que não tem nem tijolo, nem isolamento para a obra, apenas mato.
A situação está tão complicada para a Syene, que ela fez uma inovação no setor imobiliário e colocou o Salvador Prime em promoção. "Liquida Salvador Prime" anuncia o site da Syene.
Procon age e notifica empresas
O Procon notificou, em uma semana, 40 empresas do ramo da construção para que elas apresentem o cronograma de obras. Foram notificadas MFP Construtora, PDG, OAS, MRM, Costa Andrade, Rossi, André Guimarães, Syene, Tenda, Deil, Odebrecht, Fator Realty, Ramos Catarino, Construtora Segura, Cyrela, Conipe, CPL Construtora, Holtz Engenharia, 4×4 Engenharia, Queiroz Galvão, Sertenge, BNE Empreendimento, Brandão e Nunes Empreendimentos, Catabas, Torres Engenharia, Falcão e Garrido, Chroma Construções, Metrus Empreendimentos, Ferreira Ferraz, Santa Helena Incorporações, Passarelli, Incorporadora Ecomundo, Construtora e Incorporadora Espaço R2, ARC Engenharia, São Pedro Construtora, Actitur, Gruppe Serviços e Máquinas e Via Cléere Incorporações.
Compradores sem respostas
O Jornal da Metrópole entrou em contato com as construtoras para saber o andamento dos empreendimentos. Em nota, a PDG afirmou que as obras do Pátio Jardins estão prontas, mas "aguarda a liberação do Habite-se para que o empreendimento seja entregue aos proprietários".
Mesmo com os atrasos, a empresa disse ainda que "continua trabalhando para entregar os imóveis com melhor qualidade, dentro do menor prazo".
O Jornal da Metrópole não conseguiu entrar em contato com a assessoria local da JHSF para saber o andamento das obras do Horto Bela Vista e os novos prazos previstos para a conclusão do novo bairro. Até o fechamento desta edição, ninguém se pronunciou.
Fonte: http://www.metro1.com.br/sem-tetos-construtoras-atrasam-entregas-de-empreendimentos-em-ate-cinco-anos-26-35666,noticia.html
Versão Completa do Jornal da Metrópole: http://www.jornaldametropole.com.br/pdf/JOR_1376591111.pdf
Versão Completa do Jornal da Metrópole: http://www.jornaldametropole.com.br/pdf/JOR_1376591111.pdf
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